Novamente a postos na recepção para encontrar com Hachid e
sair para o segundo dia de treino. Dessa vez iríamos tentar explorar uma nova
trilha que nos levaria ao topo da reserva ecológica.
Hachid chega sorrindo:
_”Onde pensa que vai? Ao shopping?” _pergunta o marroquino
referindo se ao meu modelito shorts, top e meião.
_”Tá falando o que, ow marroquino?”
Sua roupa de Rambo do dia anterior tinha dado lugar a uma
sunga com desenho de um palhaço Bozo careca e raivoso, o tênis de salto virou
um tênis de corrida. Eu fiquei sem entender porque o Rambo do dia anterior
agora era um corredor de elite.
Saímos pela portaria do Clubmed em busca da entrada da
trilha, em poucos metros eu entrei e comecei a subir e Hachid me seguia.
Subimos alguns metros e nos deparamos com uma porteira fechada. “Sem saída” é
melhor voltar! Quando descia encontrei
com um local e perguntei se ele sabia onde era a trilha que procurava. Mais uma
tentativa frustrada.
De volta ao asfalto o marroquino tomou a frente e seguiu
pela estrada correndo. Eu seguia atrás encarada pelo palhaço raivoso de sua
sunga fashion.
Hachid falava em francês eu respondia em inglês, outras
vezes em árabe e eu respondia em português. E se querem saber, correndo, a
gente se entendia perfeitamente.
Quando passou reto pela segunda entrada e seguiu no asfalto
percebi o porquê de sua vestimenta de corredor; hoje Hachid queria asfalto, seu
sangue árabe queria vingança.
Num ritmo forte liderava a corrida, eu tentava acompanhar à
medida que olhava o Suunto; “Meu Deus! Esse Marroquino desgraçado está virando
o quilometro para 4 minutos, eu nos 4.30 tropeçava na língua tentando não dar o
braço a torcer.”
_”Eu tenho que voltar as 18hs.”
Sem conseguir acompanhar o ritmo pensei comigo “Graças a
Deus!”
Às vezes ele olhava para trás e gritava: “Vamo, Vamo, Vamo!”
ai eu tomava do meu próprio veneno. Ninguém mandou ensinar português para a
criatura, agora era minha vez de escutar o que eu tanto gritei no ouvido dele
no dia anterior.
Eu estava acabada, de fato, não conseguia acompanhar o ritmo
de Hachid, mesmo assim pedia que ele seguisse na frente para não relaxar e
diminuir o pace, eu queria sofrer! Brigando com meu psicológico gastava todas minhas forças procurando motivação para correr num asfalto monótono.
O sangue árabe do meu mais novo companheiro de treino transbordava
em sorriso de vitoria:
_“Luli yesterday vamo vamo vamo, today Hachid vamo vamo
vamo!” com seu inglês macarrônico cantava a vitoria do dia.
_ “Ok Hachid então quando você vier para o Brasil marcamos o
desempate! Faz o seguinte me adiciona no facebook e me avisa quando for voltar.”
_ “Luli,
Hachid no facebook. Hachid loves women, facebook dangerous!”
Final de Treino: Marrocos 1 x Brasil 0
Um comentário:
hahahahahaha... tô morrendo de rir.
Muito bom. Tá imaginando eu junto com você, aliás, nesse ritmo is estar morta.
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