Toda vez que trabalhei nos eventos com o João, o reconhecimento era trabalho obrigatório afinal o mutante sempre queria saber como uma reles mortal se portaria no percurso. Foram inúmeros empenos que tomei, quer queira fazendo os tracks da DBR ou me arriscando no primeiro ano do Mountain Quest.
O Mountain Quest foi criado em 2012 por um atleta de ponta, um mutante que desafiou-se fazer 3 serras, 160 km com mais de 5 mil de acumulado passando sempre pelo ponto mais alto de todas, no meio delas existe ainda mais uma montanha o monte farinha ou Senhora da Graça, mas essa é brinde; tipo pague 3 e leve 4! No começo eu dizia que o desafio era para quem mordesse a isca, e realmente é, mas hoje eu acho que é um desafio de mutantes para mutantes, claro que os mortais podem se arriscar e se conseguirem serão elevados à outro patamar. (leia sobre a primeira edição do MQ
aqui)
Esse ano, mesmo sem a presença física de seu criador, o Mountain Quest eleva seu nível, além da prova principal os 180 km foi acrescida uma prova de 60 km no dia seguinte, e para aqueles loucos que quiserem testar ainda mais seus limites será possível arriscar se nas duas competições, com poucas horas de descanso entre uma e outra.
Finalmente só os 60 km oferecem uma possibilidade para os reles mortais, é a abertura do Olimpo, para podermos participar da festa e ficar perto dos Deuses!
Lá fui eu então sabendo das minhas condições testar os 60, porque o "trauma" de ter tentado os 160 nunca saiu da cabeça.
Pois bem; nas provas da Nexplore não existe nada fácil, era se de desconfiar que 60 quilômetros pudessem ser suaves. Mesmo fazendo uma previsão pessimista para o andamento, levando em consideração que pararia para fotos etc, errei de longe.
Sair de Amarante, qualquer que seja a direção é sempre para cima, o problema é que o "para cima" demorou os primeiros 30 quilômetros. Durante a subida nas bifurcações que existiam pelo caminho, na duvida era sempre a subir. Nunca suave, o asfalto durou pouco e logo estava lidando com pedras, singles a areia.
Mas a medida que nos afastamos da cidade estamos sós na montanha. O sofrimento realça as cores da paisagem, deixa a montanha soberana, e ao mesmo tempo que nos torna pequenos nos enche a alma.
Fui seguindo o track no meu Suunto, as vezes tinha algumas duvidas, quando no meio da primeira serra me deparo com silvas (um arbusto cheio de espinhos que os portugueses estão fartos de conhecer, mas os brasileiros nem por isto) arvores e uma trilha desaparecida.
"Será mesmo por aqui? "
E era, demorei bons minutos pondo a bike nas costas e tentando me desviar das silvas, mas mesmo assim sai de lá que parecia saindo de uma briga de gatos, toda arranhada. Nos velhos tempos eu diria que deixassem o percurso assim (as vezes a minha porção de corredora de aventura fala mais alto que a de biker) mas não se preocupem esse pequeno trecho estará limpo para o domingo.
A medida que passava por algumas partes tipicas, as memorias pipocavam na minha cabeça, tanto já vivi nessas serras que me sinto em casa. O percurso dá a volta na Capela são Bento. Não basta pedalar também é preciso agradecer, eu sugiro que o façam; no domingo quando por lá passarem lembrem se de agradecer, recarreguem se com a energia que as montanhas emanam e sigam, afinal estão apenas no começo do empeno.
Já no alto da primeira serra é possível ver a Senhora da Graça, e ela acompanha quase todo o percurso, cumprimente a pois ela estará ali olhando por ti boa parte do caminho. Chega até ser irritante, porque quando a vê pela primeira vez ela está tão longe, depois vai se aproximando até chegar aquele momento após escalar 1000 metros que a montanha vai ficar abaixo de você. Ela lembra muito as eólicas, parece estrategicamente posicionada para avisar da dureza do percurso.
Depois dos primeiros 30 km de subida vem uma descida realmente incrível, com pedras, técnica e ingrime, e mesmo apesar de todo cansaço acumulado me fez sorrir, me aproximou do João.
"Os cafés" que tanto me diziam que tinham no trajeto só apareceu no quilometro 37 km, agora imaginem o tamanho da marretada da pessoa aqui que até lá levava apenas balas e azeitonas. Fontes e água não foi problema, mesmo com o calor que fazia tive acesso a água e não passei necessidades.Cheguei no café no meu limite de exaustão.
A dona e alguns clientes encantaram se com o fato de estar sozinha pedalando no meio dos montes.
"Uma brasileira? Tão longe de casa? Sozinha?"
Minha parada levou dezesseis minutos, tempo suficiente para duas Colas (como dizem por aqui) dois pães recheados de chocolate e uma conversa boa.
Segui viagem reenergizada, e sabendo que o pior já tinha ficado para trás.
A "volta" para Amarante fica mais suave, o percurso continua incrível com downhills por caminhos em pedra, a famosa ponte de arame, que eu não entendo como ela continua ali!
Essa parte do percurso me fez lembrar o reconhecimento de uma dia da DBR que fiz com o mutante em 2012 (leia
aqui) que foi outro empeno que só!
O por do sol anunciava a noite que chegava e o tempo que eu demorava a fazer os 60 km. Oito horas e vinte em cima da bike. Mas o fim de tarde trouxe também uma satisfação indescritível.
Estar aqui poder compartilhar o amor pela bike, pelas montanhas, pela serra, poder dividir isso com amigos de longa data. Dar continuidade a um sonho.
Falo em nome da organização 2015, o Mountain Quest não é apenas uma competição, é um presente de amigos que compartilham sua paixão e a usam de combustível para tornar um sonho, realidade.
Aproveitem o empeno, vivam cada segundo dele, agradeçam, recarreguem suas energias nas montanhas e comemorem conosco na linha de chegada!
Sejam bem vindos!