Fazer a segunda etapa do Alvão na Segunda feira levando em
consideração que nós tínhamos demorado 12 horas para fazer o Marão no sábado não
me soava como uma boa idéia.
Como diz o ditado carioca: “Passarinho que acompanha morcego
acorda de cabeça para baixo!”.
“Eu não quero pedalar 12 horas de novo!” _a mortal.
“Não se preocupe, não serão 12 horas!”_ o mutante,
obviamente nesse momento ele estava mais uma vez usando sua própria referencia;
“Que diabos 12 horas?! Quem demora 12 horas para completar 90 km?”
Nem preciso contar para vocês que o passarinho aqui começou
a chorar no quilometro 6. E você me pergunta:
“No quilometro 6?”
Eu te respondo:
“Isso mesmo no quilometro 6, e digo não é fácil acompanhar
João Marinho no pedal, quem já teve o desprazer de tentar sabe bem o que eu
estou falando, depois dizem que levamos com o homem da marreta! Eu vou te
dizer, o agente J. é o homem da
marreta!”
Enxugando as minhas
lágrimas com toda a paciência do mundo me disse que me levaria apenas até o
rock garden, que era uma parte do percurso que eu estava ansiosa para ver. Nesse
momento tivemos uma brilhante idéia; E se pedíssemos ajuda para os universitários?
Rapidamente o João pegou
seu celular e postou no Facebook
“A situação é a seguinte: estou com a Luli na serra do Alvão,
ela tá quebrada e precisa vosso apoio. Estamos no km 12 e são 90km da etapa 2
da DBR. Quantos mais comentários, mais kms ela faz! Bora lá comentar? Cada comentário
vale 1km”
Em poucos minutos já tínhamos quase 40 comentários, a partir
daí eu já estava pensando com é que eu ia fazer para seguir já que
provavelmente a postagem atingiria 90 comentários. No final do dia foram quase
150! Aí eu lhes pergunto: “É assim que vocês me consideram? Me obrigando a
pedalar 90k com o mutante, vulgo homem da marreta?”
João me explicou o percurso, com montanhas tão visíveis fica
fácil identificar em que parte da etapa nós estamos. Nessa etapa não existem os
malditos cata-ventos brancos, nela o principal referencial é o morro da Nossa
Senhora da Graça. Claro que 60 k depois o nome do morro foi alterado!
O rock garden é uma parte saborosa da DBR para quem aprecia técnica.
Eu mesmo me deliciei com alguns trechos, em outros desci da bike, não tanto
pelo medo das pedras, mas a lateral da trilha tem um “precipício” e isso
atrapalhou minhas idéias.
Fui posta à prova fazendo todas as etapas da competição que
será em setembro, desde a primeira etapa eu aprendi algo e pude contar para os
interessados; aprendi lidar com o calor, a nunca olhar para o topo do morro que
é sempre para lá que a gente vai, aprendi que todo percurso deve ser respeitado.
O que eu ainda não tinha aprendido era que eu tinha que me cuidar para não
ficar assada.
Embora tenha feito algumas competições em estágio isso nunca
tinha me acontecido, e depois do meio do percurso a situação ficou grave.
“A tragédia de um dia
da nossa vida tem potencial para virar comédia no dia seguinte.”
Na hora não teve graça, ouviu Nossa Senhora? Não teve graça
nenhuma eu ter que andar algumas subidas com o calção no joelho rezando para não
aparecer nenhum pastor. Não teve graça também em ter que trocar de bermuda com
o João (isso é que é namorado!) para ficar com uma roupa menos justa. Na hora não
teve graça em ter que ligar para o Luis Leite ir de encontro a nos trazendo
pomada.
Enquanto isso choviam comentários no facebook! Foram quase
30 k pedalados em pé graças a vocês meus amigos.
No final do dia o por do sol, a lua que nascia quase cheia,
intensificados pelo meu sofrimento deixou aquela tarde vívida na minha memória.
O silencio de espírito, o sorriso banhado a lágrimas de satisfação em ter
completado a etapa, e não ter demorado 12 horas, ter demorado quatorze!
Quando chegamos a extremos a vida toma uma proporção diferente,
nosso referencial muda, depois de tudo isso um banho e uma Coca- cola bem
gelada e a vida tem um sabor muito mais especial.
Amigos, aproveitem a Douro Bike Race, ela foi feita com
muito amor e carinho para que todos possam viver 4 dias intensos que ficarão na
memória vívidos e coloridos.
Love the ride!
Quer saber mais sobre as etapas? leia no blog da Douro, lá o mutante conta tudo tim tim por tim tim!
4 comentários:
Dá até medo postar um comentário aqui... rsrsrs. Espero que não se 'transforme' em mais 1 Km ! Luli, me perdoe, mas além de ter enviado um comentário de 1Km+, também não contive uma risadinha vendo vocês de bermudas trocadas, não tem graça, mas é ficou engraçada no seu relato rsrsrs.
Beijão para os sempre inspirados : LULI COX e JOÃO MARINHO !! Eu realmente adoro vocês e suas aventuras.
Cristina
...está cheio de saudades tuas para voltar a acertar-te! Relato super divertido. Assim fico até inferiorizado! :)
Muito eu me ri agora!!!
Se eu já tinha adorado o post do João, ainda gostei mais do teu!
Ainda me estou a rir!!
http://bdr-btt.blogspot.pt/
Luli, belo relato. Parabéns!! Esses pedais são inesquecíveis. Vivi isso 6 dias seguidos em Compostela. Cada dia uma dor, um choro, uma batalha. Aí a chegada ao destino é um grande presente...
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