segunda-feira, 3 de agosto de 2015

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segunda-feira, 22 de junho de 2015

Mountain Quest 2015 - Palavras de uma largada

É difícil estar aqui para falar do Mountain Quest, não é fácil para nós continuarmos o sonho sem seu criador. Muito menos tentar fazer seu papel.

Na edição desse ano estamos trilhando um caminho novo. É o começo de um novo track que desbravamos sem saber onde vai dar.
Agradecemos à todos os que estão aqui e seguem conosco.

O João aqui agora certamente estaria falando de seu amor pelas montanhas, de sua paixão como fazia incansavelmente

Mas sem ele aqui, fomos obrigados a virar uma chave e agora ao invés de individualmente pensar como cada um de nós, pensamos com a cabeça dele, são inúmeros João Marinho que estão por aqui, na forma de atletas e na forma dos staffs.

Nós compartilhamos o mesmo amor e sonho. E hoje não é apenas nossa paixão pelas bikes ou aventuras que nos trás aqui mas também nossa paixão por ele.

Um homem que nos ensinou a amar a vida, viver apaixonadamente e perseguir nossos sonhos.

O Mountain Quest e todas as competições criadas pelo João são assim; não são uma simples prova, é a partilha de um amor, de dividir o que se sente ao estar no meio da natureza, nas montanhas mágicas de Amarante.

Em nome da organização e como alguém que vive das mesmas paixões, peço que levem consigo desse final de semana, o que o João sempre nos ensinou.

O Mountain Quest além de uma prova feita para redefinir os limites é a união de amigos, o amor pelo esporte e pela natureza, a celebração da vida.

Agradeçam o presente e façam a vida valer.
Sempre!
Te amamos João Marinho!


quarta-feira, 17 de junho de 2015

Mountain Quest 60 km - testando o percurso


Toda vez que trabalhei nos eventos com o João, o reconhecimento era trabalho obrigatório afinal o mutante sempre queria saber como uma reles mortal se portaria no percurso. Foram inúmeros empenos que tomei, quer queira fazendo os tracks da DBR ou me arriscando no primeiro ano do Mountain Quest.

O Mountain Quest foi criado em 2012 por um atleta de ponta, um mutante que desafiou-se fazer 3 serras, 160 km com mais de 5 mil de acumulado passando sempre pelo ponto mais alto de todas, no meio delas existe ainda mais uma montanha o monte farinha ou Senhora da Graça, mas essa é brinde; tipo pague 3 e leve 4! No começo eu dizia que o desafio era para quem mordesse a isca, e realmente é, mas hoje eu acho que é um desafio de mutantes para mutantes, claro que os mortais podem se arriscar e se conseguirem serão elevados à outro patamar. (leia sobre a primeira edição do MQ aqui)


Esse ano, mesmo sem a presença física de seu criador, o Mountain Quest eleva seu nível, além da prova principal os 180 km foi acrescida uma prova de 60 km no dia seguinte, e para aqueles loucos que quiserem testar ainda mais seus limites será possível arriscar se nas duas competições, com poucas horas de descanso entre uma e outra.
Finalmente só os 60 km oferecem uma possibilidade para os reles mortais, é a abertura do Olimpo, para podermos participar da festa e ficar perto dos Deuses!

Lá fui eu então sabendo das minhas condições testar os 60, porque o "trauma" de ter tentado os 160 nunca saiu da cabeça.

Pois bem; nas provas da Nexplore não existe nada fácil, era se de desconfiar que 60 quilômetros pudessem ser suaves. Mesmo fazendo uma previsão pessimista para o andamento, levando em consideração que pararia para fotos etc, errei de longe.


Sair de Amarante, qualquer que seja a direção é sempre para cima, o problema é que o "para cima" demorou os primeiros 30 quilômetros. Durante a subida nas bifurcações que existiam pelo caminho, na duvida era sempre a subir. Nunca suave, o asfalto durou pouco e logo estava lidando com pedras, singles a areia.

Mas a medida que nos afastamos da cidade estamos sós na montanha. O sofrimento realça as cores da paisagem, deixa a montanha soberana, e ao mesmo tempo que nos torna pequenos nos enche a alma.


Fui seguindo o track no meu Suunto, as vezes tinha algumas duvidas, quando no meio da primeira serra me deparo com silvas (um arbusto cheio de espinhos que os portugueses estão fartos de conhecer, mas os brasileiros nem por isto) arvores e uma trilha desaparecida.
"Será mesmo por aqui? "


E era, demorei bons minutos pondo a bike nas costas e tentando me desviar das silvas, mas mesmo assim sai de lá que parecia saindo de uma briga de gatos, toda arranhada. Nos velhos tempos eu diria que deixassem o percurso assim (as vezes a minha porção de corredora de aventura fala mais alto que a de biker) mas não se preocupem esse pequeno trecho estará limpo para o domingo.

A medida que passava por algumas partes tipicas, as memorias pipocavam na minha cabeça, tanto já vivi nessas serras que me sinto em casa. O percurso dá a volta na Capela são Bento. Não basta pedalar também é preciso agradecer, eu sugiro que o façam; no domingo quando por lá passarem lembrem se de agradecer, recarreguem se com a energia que as montanhas emanam e sigam, afinal estão apenas no começo do empeno.


Já no alto da primeira serra é possível ver a Senhora da Graça, e ela acompanha quase todo o percurso, cumprimente a pois ela estará ali olhando por ti boa parte do caminho. Chega até ser irritante, porque quando a vê pela primeira vez ela está tão longe, depois vai se aproximando até chegar aquele momento após escalar 1000 metros que a montanha vai ficar abaixo de você. Ela lembra muito as eólicas, parece estrategicamente posicionada para avisar da dureza do percurso.


Depois dos primeiros 30 km de subida vem uma descida realmente incrível, com pedras, técnica e ingrime, e mesmo apesar de todo cansaço acumulado me fez sorrir, me aproximou do João.


"Os cafés" que tanto me diziam que tinham no trajeto só apareceu no quilometro 37 km, agora imaginem o tamanho da marretada da pessoa aqui que até lá levava apenas balas e azeitonas. Fontes e água não foi problema, mesmo com o calor que fazia tive acesso a água e não passei necessidades.Cheguei no café no meu limite de exaustão.

A dona e alguns clientes encantaram se com o fato de estar sozinha pedalando no meio dos montes.
"Uma brasileira? Tão longe de casa? Sozinha?"
Minha parada levou dezesseis minutos, tempo suficiente para duas Colas (como dizem por aqui) dois pães recheados de chocolate e uma conversa boa.


Segui viagem reenergizada, e sabendo que o pior já tinha ficado para trás.
A "volta" para Amarante fica mais suave, o percurso continua incrível com downhills por caminhos em pedra, a famosa ponte de arame, que eu não entendo como ela continua ali!

Essa parte do percurso me fez lembrar o reconhecimento de uma dia da DBR que fiz com o mutante em 2012 (leia aqui) que foi outro empeno que só!


O por do sol anunciava a noite que chegava e o tempo que eu demorava a fazer os 60 km. Oito horas e vinte em cima da bike. Mas o fim de tarde trouxe também uma satisfação indescritível.
Estar aqui poder compartilhar o amor pela bike, pelas montanhas, pela serra, poder dividir isso com amigos de longa data. Dar continuidade a um sonho.

Falo em nome da organização 2015, o Mountain Quest não é apenas uma competição, é um presente de amigos que compartilham sua paixão e a usam de combustível para tornar um sonho, realidade.
Aproveitem o empeno, vivam cada segundo dele, agradeçam, recarreguem suas energias nas montanhas e comemorem conosco na linha de chegada!
Sejam bem vindos!

domingo, 14 de junho de 2015

Finalmente Amarante! * bike trip Day 4

"Luis, você vai mesmo me encontrar?"
"Vou, vou!"
Assim eu poderia desistir de amarrar todos os meus pertences na bicicleta porque teria alguém para carregar a minha mochila na peregrinação final à Amarante.
Combinamos na ponte pedonal da Régua, e depois de um delicioso cafe da manhã com direito a um lindo bilhete de boa viagem dos anfitriões, segui para o encontro.

O percurso até a Régua era só descida e logo no começo peguei um downhill em singletrack técnico delicioso! Comecei o dia delirando.
Cheguei na ponte antes das dez, me abriguei do vento e frio a espera de meu amigo.


10:10, 10:15, 10:20. Vou seguir sozinha ele sabe mais ou menos meu caminho...
Comecei a subir a Régua. Absolutamente maravilhada com o lugar, lembrei da viagem de caiaque que fiz com o João, e de muitos momentos no Douro. Realmente um lugar impressionante, sua beleza choca!


Com a mochila em cima da bike, empurrando e xingando o Luis de tudo quanto é nome. Quando olhei as possibilidades de track, vi que certamente nos desencontraríamos, eu não estava no caminho mais obvio e as possibilidades eram diversas.
"Ai Meu Deus!"
Foi aí que tive a brilhante ideia, resolvi pedir ajuda externa e chamei meus bisavôs:
"Andem lá! Tragam o Luis aqui, porque eu não aguento mais carregar essa bike e mochila, desse jeito não vou chegar a Amarante nunca!"

Avistei um restaurante e decidi parar; frango com batatas fritas! Ah as batatas fritas de Portugal... são fresquinhas e feitas na hora! Deixei a minha bike encostada numa esplanada fora. Poucos minutos depois quem aparece?


"Brazuca, mudei meu caminho, teves é muita sorte de eu te encontrar!"
Assim depois do almoço tive a tão sonhada mochila carregada e uma doce companhia para me trazer de volta a Amarante.
...E se querem saber a verdade; nunca foi sorte!



sábado, 13 de junho de 2015

Antepassando Guarda à Queimada * bike trip Day 3

Fiquei em um apart hotel na Guarda que era de uma senhora de 82 anos, cheia de energia administrava tudo quase sozinha. Me senti num castelo! Mas muito bem acolhida.
"Quando vieres para esses lados venha nos visitar."
Saí cedo para mais um dia longo de pedal.

O plano era pedalar bastante para deixar um menor trecho para o dia seguinte.
Com 20 e poucos quilômetros de pedal cheguei a Freches, lá parei em um café para me garantir, afinal o dia anterior fora sem jantar.


Com pouco tempo de pedal a corrente arrebentou de novo, mas nada que minha super tesoura e mais uma pedra do caminho não resolvessem. Essa eu dedico para quem acha que pedras no caminho só atrapalham! =) Bike arrumada de novo!


"Para onde vais? E andas sozinha?"
Já consegui identificar uma verdade; quando no google maps da para escolher a rota de bicicleta ninguém acha estranho uma viagem de pedal sozinha, quando no google maps o máximo que encontra é uma alternativa de rota a pé, pode ter certeza choverão perguntas.
Adoro responder! O papo flui gostoso com os simpáticos portugueses.

"Então vais ter que passar por Trancoso! Até lá é uma picada!!!"


Sai do bar disposta a descobrir o que seria a tal picada, no meio dela já estava querendo voltar para baixo. Escalando a montanha por uma trilha cheia de pedras no meio de nada e longe de tudo. Coloquei a pesada mochila sobre a bike e segui assim empurrando sem pressa até o topo.

Passando por mais uma pequena aldeia, outra conversa curiosa com uma senhora:
"De onde eres?"
"Eu sou do Brasil."
"Pois falas muito bem português!" (:)!) "E vens sozinha?"
Ai se a Sra soubesse a afronta que ela estava a fazer aos meu tios e bisavós!
"Não. Estou com Deus."
"Então vais pagar multa porque a bicicleta é só para um!"

Mais para frente pouco depois das duas da tarde achei um café / restaurante. Inacreditável?! Seria mesmo um restaurante na minha rota? Não era miragem, e poderiam me servir.
Comi sopa, um bacalhau e de sobremesa baba de camelo (essa eu não conhecia) e ainda pedi azeitonas extras para levar na minha viagem.
Segui com sorriso de orelha a orelha.


O percurso mais uma vez estava incrível, e as velhas construções, muros de pedra e fontes datadas de 1900 o tempo todo faziam sentir que meus tios e avôs seguiam comigo, eu até podia ouvi los discutir, o tio Francisco falava em minha defesa e meu bisavô abanava a cabeça dando razão aos portugueses espantados que perguntavam se eu viajava sozinha.


O dia foi longo. Tinha poucas alternativas de parar para dormir era ou 8 ou 80 então tive que seguir para os 80 de pedal. Chegando em Queimada super cansada passei na frente da pousada que tinha pesquisado. Chamei, depois de alguns minutos aparece uma senhora.
"Ai menina! Os donos não estão, espera um pouco que vou telefonar."
Antes mesmo de alguém atender eles chegam à casa:
"Nossa sorte que teve! Não íamos vir para cá hoje, nós moramos na Régua. Claro que pode ficar aqui sim!"

Numa pousada "Casal Viúva" com poucos e lindos quartos me instalei. e depois de um banho quente que estava precisando após as quase 10 horas de viagem, desci convidada pela família para jantar. Conversa regada a muitas perguntas e trocas de experiência. e vivência.
Fui deitar tarde e feliz!


quinta-feira, 11 de junho de 2015

Peregrinando! Navasfrías à Guarda * bike trip Day 2

Acordei arrumando a corrente da minha bicicleta. Dessa vez não precisei da pedra porque tinha as ferramentas do dono da casa rural, mas ainda assim precisei da minha tesoura.
A saída do pequeno vilarejo de Navasfrías já foi por vielas de terra, e o percurso seguiu assim 80% do dia.


Não demorou muito cruzei a fronteira de Portugal. Me senti em casa. Comerçaram os vilarejos feitos de pedra, as fontes de água pelo meio do caminho, pequenos paralelepípedos, estreitos caminhos. O paisagismo variado dos campos verdes, plantações e campos amarelos de trigo me trouxeram uma paz que me fez esquecer o peso da mochila e o destino, estava ali a passeio e o mundo parecia todo meu.

Minha alma é mais portuguesa que francesa ou holandesa, talvez meu bisavô esteja mais carregado nos genes dos que os outros, ou talvez fossem os passarinhos, um caminho inóspito ou o dia, o fato é que estava totalmente conectada com o caminho.
De alma cheia.


Passei por muitos Vilarejos e claro que em nenhum deles tinha restaurante, só cafés. Num deles que perguntei se tinha comida e não conseguia parar de olhar para o prato bem servido que esposo da dona do café comia. "Batatas!" Como eu queria uma batata e um peixinho.

Sem sucesso depois de uma coca- cola, segui viagem comendo o pouco que levava comigo; salgadinho, balas e azeitonas. Só fui conseguir almoçar no destino final Guarda, uma cidade grande (levando em consideração os vilarejos, não são Paulo!) Depois da parada no Mc Donalds (não me recriminem) resolvi achar um hotel um pouco afastado da cidade. Sessenta quilometros rodados em um caminho mágico. Que amanhã seja igual!

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Plasencia à Navasfrías * biketrip Day 1

Saí de Plasencia as nove da manhã, ainda sem muita vontade de pedalar. Meu corpo ainda estava sentido o peso do Xterra. Eu tinha planejado pedalar ao redor de 50 e poucos quilômetros levando em consideração experiencias anteriores e condição física atual.


Dessa vez sem a Brava e com a minha mountain bike Rose Rocket teve que ser diferente; toda a carga seria levada nas costas, até que para quem veio competir e pretende passar quinze dias por aqui consegui me comportar muito bem montando uma não tão pesada mochila. Obvio que optei por arriscar e não levar ferramenta nenhuma de bike, tudo o que eu tenho é uma tesoura e olha que eu pensei em abandoná la ao sair do hotel, depois mudei de ideia porque pode ajudar em alguma emergência. Se pudesse escolher prefiro pedalar uma bike muito pesada do que ter que carregar tudo, mas como não tive escolha, segue!


Mais uma vez baixei a rota no Suunto para ter liberdade de saber o caminho sem ter que depender de ninguém. Dessa vez escolhi uma rota a pé nas opções do google considerando que poderia passar com a bike em todos os lugares.


A primeira estrada já me deixou feliz, com pouquíssimo movimento de carro e paisagens bonitas me levando a mudar o astral de quem não estava querendo pedalar. Seguindo o Suunto o caminho me mandou para dentro de um parque; estrada de terra com árvores verdes dispersas em campo amarelo. Lindíssimo!


No meio do parque sem aviso prévio a corrente arrebenta e cai no chão. Eu olhei para trás meio desacreditada que isso pudesse estar acontecendo. Otimista de plantão a primeira coisa que pensei "Ainda bem que isso não aconteceu no meio da competição" em seguida vem o pensamento realista "Como vou arrumar isso?"


Lá estava eu e ela cara a cara: "Santa tesoura!" Eu demorei um tempo para conseguir me entender com a corrente e depois com ajuda da minha unica ferramenta finalmente reencaixei, ai foi só achar uma pedra e bater na corrente para fechar. Claro que no primeiro momento eu coloquei ela errado na bike e quando sai pedalando o barulho esquisito me dizia que era melhor eu rever o concerto. Pronto! Depois da parada obrigatória segui viagem pedalando bem de leve para não forçar nada.


Não demorou muito cheguei em Villasbuenas de Gatas o vilarejo que tinha planejado ficar, mas a casa rural que tinha marcada no google maps não estava ativa, como era cedo e o vilarejo era bem pequeno abasteci de água na fonte da cidade e segui para encarar a serra.


Uma cadeia de montanhas fica na divisa de Portugal e Espanha nessa região que estou por isso havia planejado para parar antes, a serra no final do dia com o acumulado poderia doer. Como os dias escurecem as 10 da noite tinha bastante tempo para subir com calma. De fato foi o que fiz; saí da bike coloquei a mochila chumbo (pois é o tempo passou e revi meus conceitos) em cima da bicicleta e fui andando calmamente. A montanha demorou muito para terminar mas minha alma estava em paz.


O segundo plano de ataque era El Payo, mais um pequeníssimo vilarejo, que descobri ter uma casa rural e guiada cheguei ao local:
"Boa tarde, a Sra. é a responsável pela casa? Posso dormir essa noite?"
Com pouca boa vontade a espanhola me respondeu:
"A casa está ocupada. Mesmo assim eu não alugo para uma noite."
Eu já tinha entendido na primeira frase, a segunda resposta gratuita só me fez imaginar que poderia vir a terceira: "Dorme na rua, bitch!" mas antes que isso acontecesse agradeci, montei na bike e segui mais doze quilômetros rumo a Navasfrías.

Quase as sete da noite já perto do meu limite cheguei a mais um vilarejo. Dessa vez tinham placas de duas casas rurais. Bati em uma delas e ninguém atendeu, ai me informaram que os donos do bar da cidade eram os mesmos, então fui ao bar. No caminho a minha corrente voltou a arrebentar, sem arrumar segui a pé.

"Boa noite, me informaram que poderia ter informação das casas rurais aqui."
Outra senhora tão simpática quanto a primeira me responde:
"As casas são do meu irmão e ele não está, não há nada que eu possa fazer. Você pode tentar o próximo vilarejo."
Havia mais pessoas no bar que me olharam com cara curiosa.
"Mas não existe nenhuma opção aqui?"
"Não." novamente sem boa vontade.
"Bom então eu vou dormir na rua mesmo porque não posso mais pedalar."
Pedi uma Coca-Cola e a senha da internet para ver se tinha alguma luz. Nesse meio tempo imagino que alguém se sensibilizou e conseguiu amolecer o coração de pedra da mulher.
"Vou tentar falar com meu irmão."

Felizmente o dia acabou bem e suas filhas fofas me acompanharam de patinete até a linda casa rural. Em Navasfrías com sabor de doce imprevisto, termina o primeiro dia da aventura de pedal rumo a Portugal. Amanhã tem mais!


segunda-feira, 8 de junho de 2015

relato Xterra Extremadura - Campeonato Espanhol

A área de transição estava em festa. Dez mulheres que competiam nos grupos de idade à vaga do mundial no Havaí. Das 10, éramos quatro da mesma categoria.


Houve uma conexão imediata entre todas. No meio de tantos homens, as poucas guerreiras dividiam experiências e sorrisos. Tinha Italiana, espanhola, austríaca, suissa...

A primeira saída foi dos prós, seis minutos depois a masculina dos grupos de idade e após quatro minutos finalmente nós mulheres.


A largada para nós foi as 12.40 hs Até agora estou tentando entender porque raios eles fazem a largada nesse horário, no auge do calor. O mais engraçado é que ser brasileira parece ser sinônimo de saber aguentar temperaturas altas:

"Eu não suporto calor, meu rendimento cai totalmente."
Em seguida vem a resposta padrão: "Mas você é brasileira..."
Como se ser alemão ou suíço desse algum credito maior anti calor.
"Sim sou brasileira, não suporto calor e tem mais também não sei sambar!"


Das 162 pessoas que largaram 161 estavam de neoprene. A natação no rio Jerte foi provavelmente a mais traumática de todas as experiências; destreinada, sem neoprene em gélida água doce eu via o grupo de mulheres se distanciar. Sai da água, após muita luta e provavelmente 10 minutos depois da ultima mulher. Minha fama estava feita.

Entrei no mountain bike ainda atordoada, saí pedalando forte porque tinha o corpo frio da água. O começo do percurso me deixou pessimista "Lá vem mais um pedal sem técnica." E de fato os primeiros quilômetros eram estradões ou singles feitos para girar.

Quando estava perdendo as esperanças o primeiro downhill técnico com pedras e dropes me arrancou sorriso do rosto, e nesse começo de prova deixei 3 mulheres para trás. o primeiro loop foi relativamente tranquilo, em alguns momentos era preciso descer da bike e empurra-la, trechos impedaláveis! O segundo loop tinha um uphill muito exigente e o calor estava castigando muito.


Ultrapassei mais uma mulher, que ainda lutou e ficamos disputando posição por um bom tempo. Depois do quilometro 26 eu já não tinha mais forças; a subida continuava e o calor piorava. Pedalei alguns momentos com Ceci, um senhor de 67 que exala bom humor, e mesmo com tanto sofrimento seguia cantando e fazendo brincadeiras.
 "Calor infernal." As palavras do briefing na véspera ecoavam na minha cabeça. No final da bike nem os downhills técnicos me divertiam mais, eu estava mais perto do meu limite, mas foi na corrida onde quase o ultrapassei ele.

Eu tinha duas informações: o depoimento do campeão do mundo de que a corrida era extremamente exigente, e alguém que me disse que subiríamos até as antenas.


"Venga Luli!" passou Ceci desta vez cantando garota de Ipanema.
"Ceci estou morta! Você jura que temos que subir até aquelas antenas?"
"Si!"
"Mas enconstar mesmo nelas?"
"Sim. Eu ouvi no rádio que uma brasilera estava mal, não é você né?"
"Sou a unica brasileira da prova."
"Falaram que ela estava tendo muita dificuldade na água."

Com esse comentário tudo que consegui fazer foi sorrir! Na água, na bike e agora na corrida, em nenhum momento a prova ficou suave para mim, mas o pior estava por vir. Ritmado Ceci se afastou me deixando sozinha novamente.

O calor dos infernos chegava dos céus e brotava do chão e piorava a medida que a subida ficava mais ingríme rumo ao topo. Eu parei em uma das pouquíssimas sombras que cruzei no caminho para tentar escutar meu corpo que gritava em silêncio.

"Será que descobri meu limite? Será que tenho forças para continuar? Será que devo continuar?" Nunca quatro quilômetros pareceram tão distantes.

"Venga! Já está quase mais um pouco você está no topo" Uma moça da organização vendo meu estado tentava animar.
Meu estado era tão ruim que nem na descida eu consegui correr. Tive que sentar mais uma vez.
"Você está bem?" o moto vassoura passava para checar.
"Não, estou morta. Você tem água?"
Aproveitei a ajuda para jogar mais água na cabeça e tentar baixar a minha temperatura corporal. Depois disso ainda parei mais uma vez ao ver o carro médico.


Quando avistei a catedral de Plasencia consegui correr novamente, nos dois quilômetros finais.
Comecei a chorar antes mesmo de cruzar o pórtico, ao passá lo me debulhei em lágrimas. Todo esforço tinha ficado para trás. Foram 6 horas e 20 de prova (No Havaí foram 4.47hs) segunda da minha categoria garantindo a vaga para o mundial pelo campeonato espanhol. Quem diria! Xterra agora a "Extrema dura" era história, uma boa história.

***
Me aproximando da tenda:
"Posso fazer massagem?"
"Você é aquela que nadou sem neoprene!"
***
Obrigada New Balance, Ready4, Suunto e à todo staff e organização do Xterra Extremadura.
Agora é beber a garrafa de vinho e ir até Amarante pedalando.
Não saiam daí!



sábado, 6 de junho de 2015

Xterra Extremadura Espanha - Pré Prova

Para minha surpresa quando cheguei no aeroporto de Madrid o fiz sozinha, minha bike havia ficado na escala em Lisboa!

Hermes e Fabian dois figuras da organização foram me buscar e tivemos que ficar fazendo hora até que finalmente as duas da tarde pudéssemos voltar para o aeroporto e pegar a bike que chegou dois voos depois.

Gravamos um "vídeo pedido",os dois tentaram fazer com que Ruben Ruzafa o campeão mundial montasse a minha bike, mas infelizmente hoje ele está ocupado.

Nesse meio tempo descobri várias coisas da prova amanhã; ela é a mais longa de todos os Xterras que fiz (até mesmo o Havaí) serão 1,5k de natação, 40k de bike e 10 de corrida.

Cheguei a Plasencia a cidade da competição no finalzinho do dia, uma cidadezinha há duas horas de Madri encantadora! (amanhã juro que posto fotos) Deu tempo de tomar banho montar minha bike rapidinho e ir ao briefing e pasta party.

O briefing começou com palavras que me assustaram: "Um grande nível de exigência mental." "Temperaturas infernais." De cara lembrei da prova do Havaí, com a diferença de que aqui o calor é seco, ou seja quando acha que está desidratando já está desidratado faz tempo!

A natação será em rio. Me perguntaram se eu tinha treinado para entender o que pode acontecer. Pra que? Temos que manter a tradição, nada de fazer percurso, já que vamos com emoção que seja tudo surpresa! Claro que eu deixei o neoprene em São Paulo, levando em consideração que daqui volto pedalando para Portugal, qualquer peso extra não é bem vindo, mesmo que seja para ganhar alguns minutos de prova.

Amanhã as mulheres são as últimas a largar, serão 4 largadas seguidas, saímos 6 minutos depois dos Pró. Ah! Ruben Ruzafa o Sr que se cuide!

Boa noite! Quem vem comigo?